segunda-feira, 21 de maio de 2012

A verdade sobre o cultivo de raças

Cães de Raça: Eugenia em pleno Século XXI

 
Hitler gostava muito de cães, mas o
seu – é claro! – só podia ser um...
pastor ALEMÃO.
Uma das coisas mais detestáveis no nazismo foi o conceito que essa ideologia desenvolveu para raças. Segundo os próprios, havia uma hierarquia que poderia ser cientificamente explicada para as raças humanas, onde (novamente os próprios) encontravam-se no máximo patamar. Conveniente.
Na parte inferior dessa "hierarquia" estavam osUntermenschen (subumanos, degenerados), que eram considerados Lebensunwertes Leben(indignos de viver). Muitos desses foram declarados inimigos do regime alemão e enviados para campos de concentração onde, amontados como lixo, morriam, vítimas do frio, fome, inanição e trabalhos forçados. Ou executados mesmo.
Um dos pensamentos dominantes à época era de que esta raça superior tinha sido enfraquecida por se misturar com aquelas "raças inferiores" da base da pirâmide.
Mas independentemente do que aconteceu ou não 
 alguns negam com veemência o Holocausto, como o presidente malucão do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ou o ensaista brasileiro Gustavo Barroso  o fato é que esse negócio de raça pegou de tal modo que, mesmo condenado como responsável pela maior hecatombe da história da civilização, ainda perdura nos dias de hoje, sendo inclusive cultuado,  incentivado e premiado.

Com os cães.

Você gosta de cachorro? Todos eles? Não pode ver um que logo já faz uma carícia ou dá um abraço?

 

Tem certeza?

 

Nota: esta aí de cima eu mesmo tirei da rua, mas infelizmente não deu tempo de fazer mais nada: morreu na noite do mesmo dia. Encontrava-se sob um estado tão avançado de sarna que eu não podia segurá-la, pois sua pele saía nas minhas mãos. Já estava debilitada demais para se tentar qualquer coisa, mas ao menos não morreu com fome, sede ou frio.

AVISO: Esta postagem tem verdades bastante inconvenientes (e imagens ídem), especialmente para alguns donos de animais.
Provavelmente vai ser o artigo mais longo que já escrevi para esse site, porque infelizmente  há muito assunto (ruim) para abordar a respeito.

Pra começar, vou soltar logo a bomba: quem gosta de cachorro gosta de CACHORRO não importa qual seja, e não de pastor-alemão, weimaraner, poodle, boxer, pinscher ou qualquer outra das aprox. 650 raças que existem. O mesmo vale para as 250 raças de gatos ou qualquer outro animal – o que inclui os seres humanos. Quem gosta, não compra.

Geneticamente falando todo cão atual, desde o minúsculo yorkshire até o volumoso são bernardo, nada mais é do que um lobo cinzento norte-americano (Canis lupus). Algumas raças também vieram de algumas subespécies do mesmo, como os lobos chinês, indiano e europeu. Ou seja: se você tem um cão em casa, você tem um lobo. Pode ser pequenininho, sem rabinho, fofinho, peludinho, inho, inho, inho... mas em seus genes ele nunca deixou de ser um lobo.

 
Esqueletos de dogue alemão e chihuahua. Em última instância,
todo cão nada mais é do que um lobo antropicamente modificado.

Embora possam até parecer engraçadinhos – e NÃO o são – estes animais transformados pelo péssimo mal gosto de seus donos têm diversos problemas relacionados a esses caprichos. A palhaçada toda começou em 1873, com a fundação do Kennel Club da Inglaterra. Esta associação é a responsável por, digamos, "definir" como os cachorros devem ser e, desde então, tem sido responsável por deformá-los e condená-los mundo afora. Influenciados por ele, os donos de cães de competição só admitem criar animais que sigam fielmente o que os livros de especificações da raça exigem. Eles matam se livram de todo e qualquer cão que não se encaixa no "padrão pré-estabelecido da raça". Por "não se encaixa" chamamos qualquer manchinha, qualquer coloração que não esteja em conformidade com o que diz o Kennel Club. Embora os animais sejam 100% saudáveis e totalmente perfeitos, não têm valor de mercado  a única coisa que importa para esses putos  e, com uma cavalar dose de sorte, pode até ser doado (ou vendido por um preço menor) a alguém que não se importa com algo tão banal. Mas o mais provável mesmo é que seja morto assim que nascer, para pouparcustos e leite para seus irmãos "perfeitos". Como resultado dessa obsessão doentia (e totalmente improcedente) por suas "normas", temos as seguintes aberrações anatômicas (clique para ampliar):
 
As próximas duas sequências de imagens mostram fotos das raças originais, no começo do século (no alto), e suas versões atuais (abaixo). O bull-terrier já teve uma cara normal, mas a conhecida (e horrorosa) torção de seu focinho faz com que o cão simplesmente não consiga ver sequer o que está no chão à sua frente; o dachshund (popular "linguicinha") está quase transformado numa cobra, por causa do alongamento do tronco e pescoço e encolhimento excessivo de seus membros; o bearded collie era um cachorro normal no começo do século, mas os "padrões da raça" exigiram que seu pelo crescesse a tal ponto que lhe prejudica a visão e o faz sofrer com o calor em épocas quentes.
O bolzoi sempre foi um cão grande e pernalta, mas um belo dia acharam que, para se adequar aos "padrões", o pobre animal tinha que ter também uma corcunda! Se o cão não nasce com cifose, não é da raça; o scottish terrier já foi um cão mais simples, mas os "padrões" exigiram que tivesse bigodes enormes e topete na cara, que dificultam na hora de se alimentar... sem contar membros tão pequenos que somem sob a pelagem; e o skye terrier tinha patas e olhos. Hoje não tem nenhum dos dois, e o resultado é um cão que mais parece uma lesma.
E infelizmente esses são apenas alguns dos MUITOS casos...
  • boxers sofrem de epilepsia severa;
  • labradores têm problemas oculares e ósseos;
  • springer spaniels têm deficiências enzimáticas;
  • golden retrievers têm alta incidência de câncer;
  • west highland white terriers sofrem de múltiplas alergias;
  • pugs têm o nariz tão achatado que quase não conseguem respirar; 
  • king cavaliers sofrem de siringomielia (dilatações nos ossos do pescoço causadas por deformações nos ossos do crânio);
  • bassets têm orelhas tão grandes que tropeçam nas mesmas ao caminhar;
  • leões da rodésia têm espinha bífida e cisto dermóide.

Alguns casos são particularmente terríveis... o do leão da rodésia por exemplo. É tão absurdo que, se o animal nascer perfeito, ele não é da raça! A crista característica em suas costas nada mais é do que uma espinha bífida, um defeito! Para ser "da raça", ele tem que nascer defeituoso. Se nascer normal, sem espinha bífida, mesmo totalmente saudável vai ser executado. Praticamente todas as raças possuem características que lhes fazem MAL, incomodam, doem, evoluem para problemas físicos e levam à morte precoce. Mas ainda assim os cães continuam a ser "aperfeiçoados". É uma evolução reversa: nesse caso os defeituosos são mantidos, e os perfeitos eliminados. Vai entender!
E por que tudo isso acontece? Porque, para manter os "padrões da raça", os criadores só cruzam animais que sejam parentes próximos entre si. Há casos de filhos com mães, netos com avós, irmãos com irmãs. Todos os cães bearded collie da Grã-Bretanha, por exemplo, descendem de apenas 12 animais. Não que os cães se importem em fazer sexo com parentes, mas as linhagens vão se tornando cada vez mais debilitadas e frágeis, como os exemplos citados acima. Esses cruzamentos consanguíneos arrasam o sistema imunológico desses animais. Até 3/4 dos 7 milhões de cães britânicos são de raça. Assim, enquanto estes filhotes são vendidos às vezes por até R$ 5.000,00 cada, a maioria dos clientes não sabe que está levando pra casa uma bomba-relógio. O custo REAL por trás da saúde frágil deste cachorrinho pode superar em muito o preço original.
Enquanto isso, adotar não custa NADA e não significa de forma alguma que você esteja recebendo um animal inferior em termos de fidelidade, companheirismo e até mesmo de saúde. Aliás, nesse quesito, o bom e velho vira-lata é o verdadeiro campeão. Suas múltiplas descendências lhe garantiram variedade genética e a exclusão de praticamente todas as características negativas.



Veja mais alguns péssimos exemplos abaixo:

 
Embora se pareça muito, não é Jabba the Hutt , mas o mastim napolitano, raça originalmente italiana. Além de ser esteticamente horrível, o excesso de pele é tamanho que, quando não obstrui completamente a visão do animal (o que acontece na primeira foto), causa-lhe enorme desconforto nos olhos, pois as pálpebras dobradas lhe roçam a superfície ocular. Também acarreta dificuldades para respirar e comer pois, quando se abaixa, toda aquela pele lhe cai na frente da boca. E para quê?
 
Repare na mãozinha da guria. E do cara também. Pastores-alemães são forçados a manter essa posição por toda a vida, desde a infância, até não conseguirem mais ficar com os membros posteriores eretos. Isso se chama ataxia e já lhes valeu o apelido de "cães-sapos" devido à deformidade. Essa condição exigida pelos "padrões" pode levar à mielopatia degenerativa (GSDM), que leva à paralisia. É progressiva e irreversível. Detalhe importante: os pastores alemães policiais NÃO SÃO assim. Caso contrário, simplesmente não poderiam correr.

 
Um pouco de anatomia. Comparação entre os crânios de: 1) lobo original, 2) dogue alemão (que mantém um crânio relativamente regular), 3) chihuahua, 4) pug, 5) bull terrier e 6) buldogue. Apesar de parecerem todos de espécies diferentes, não são.

O vídeo a seguir é de um documentário intitulado Segredos do Pedigree (Pedigree Dogs Exposed, BBC, 2008), que mostra toda a terrível verdade por trás dos animais de raça. Sugiro que o assistam por completo, após terminar de ler esse artigo.


Sério, vejam esse documentário e no final, fiquem com vontade de espancar todos aqueles velhos e velhas malditas que aparecem falando merda pensando que ainda vivem na era vitoriana!
Se maus-tratos são considerados crime e incesto entre humanos também, isto (que concentra ambos) não deveria também ser enquadrado como tal pela lei? Se não, por que nos horrorizamos quando casos similares acontecem com crianças?
Esses cruzamentos, apesar de pregarem o aperfeiçoamento, geralmente tornam suas vítimas muito mais sensíveis e fracas do que o único cão "verdadeiro": o já citado vira-latas. Esses animais vivem mais, adoecem menos e precisam de menos cuidados. A verdade é que eles sim são os cães perfeitos.

Ter um animal de raça, emperequetá-lo com penduricalhos, entupí-lo de cosméticos e mostrá-lo pra todo mundo é sinônimo de status nessa socidade idiota. O fato é que, por conta dessa preferência, mais de 4 milhões (MILHÕES) de cães abandonados são executados todos os anos nos abrigos dos EUA.

Como se não bastassem os problemas inerentes às raças por si só, nós ainda inventamos outras maneiras de sacanear os animais para satisfazer nossos sensos estéticos pessoais. Na China, a moda agora são os "cães temáticos", customizados (como odeio essa palavra!) para se parecerem com os animais que eles mesmos caçaram até a quase extinção ou com qualquer outro que se tenha a ideia imbecil de copiar.

 
O mal gosto humano depende do tamanho de sua idiotice. Essas aberrações vêm da China.

Há também a "tendência" de se tingir os pêlos dos animais com cores berrantes, para deixá-los parecidos com palhaços, monstros, pinturas... a coisa pode descambar para a completa e insana bizarrice, dê uma olhada.

 
Parece que a bizarrice chinesa é do tamanho de sua população...
Pessoas que fazem isso não querem um cão; querem um palhaço. E se for para ser desta forma, comprem um urso de pelúcia, oras! Não sujam, não têm necessidades, não têm fome, não destroem nada, não espalham pêlos, não fazem barulho... vai fundo! Inclusive indico duas boas marcas: Maritel e Leonela. MAS NÃO TENHA UM ANIMAL.

 
Onicectomia: para algumas pessoas, quando se tem um gato o
mais importante é a mobília da casa, e não o animal.
Outra imbecilidade que inventamos para satisfazer nossa necessidade visual  ou apenas para aparecer para os outros mesmo  são as chamadas cirurgias estéticas. Operações feitas para impedir o animal de ser justamente... um animal! Conchectomia (corte de orelhas), caudectomia (corte da cauda),  cordectomia (cordas vocais) e onicectomia (unhas) são práticas tão absurdas e grotescas que legalmente já são proibidas no Brasil (Resolução 877 do CFMV, publicada no Diário Oficial da União em 15 / 02 / 2008).  A onicectomia é geralmente feita em gatos para que não arranhem a mobília e é particularmente cruel porque extrai não apenas a garra mas toda a ponta dos dedos, uma vez que a unha está inserida nela. Afiá-las é um comportamento natural e instintivo dos felinos. Se você não quer correr o risco de ter sua mobília arranhada, a única saída é: NÃO TENHA GATO!


 
Você não achava que seu cãozinho já tinha nascido sem rabo, né?

Transformá-los no que não são para nos satisfazer é errado e incoerente, e não é apenas pela dor momentânea ou mal-estar pós-cirúrgico passageiro em si  aliás, se essa é sua justificativa, experimente amputar seu próprio braço (o desconforto será apenas inicial também...)  mas simplesmente porque cães não têm necessidade de estética ou senso de auto-estima, esses são conceitos humanos. Um cão não vai se sentir mais bonito nem vai ficar feliz por ter suas orelhas cortadas.

E se você ainda não se convenceu do quão prejudicial e desumano é comprar um cão desses, talvez se solidarize com aqueles que não são comprados, as chamadas "matrizes"...

Cadela matriz da raça boxer abandonada em Itaipava (RJ). Os
múltiplos tumores revelam um corpo exaurido e a ponto de falir.
Você já deve ter visto (e até mesmo vivenciado) a seguinte situação: alguém sai radiante de felicidade de uma petshop (após ter pago várias centenas de reais) com seu novo amiguinho peludo, que espera-se cresça saudável, bonito,  perfeito, SEM DAR TRABALHO E DESPESA.A procedência do bichinho pouco importa mas, se num raríssimo átimo de coerência for perguntado, o dono da loja dirá, confiante, que os filhotes são de criadores "licenciados" ou então "profissionais". Pois bem...

 
Lembra aquele filhotinho fofo que você viu ou comprou na petshop? Ele veio dessas gaiolas. A mãe dele ainda está lá.

Essas fábricas são dirigidas por "criadores" cujo único propósito é fazer com que seus cães se reproduzam sem parar por toda a vida, quase sempre negligenciando suas mais básicas necessidades. Amontoados em minúsculas gaiolas das quais nunca saem (mas nunca mesmo), esquálidos e imundos, são obrigados a tomar água suja e viver sobre um chão repleto de suas próprias fezes.

 
Chão de uma fazenda de filhotes. É em lugares como esse que
os cães de raça nascem. Você nem imaginava, né...?
As fêmeas ganham a denominação de "matrizes" e, se ainda estão em seu auge e podem continuar gerando ninhadas, são poupadas para manter-se reproduzindo repetidamente até a sua fertilidade diminuir ou seu corpo se render ao colapso, quando então uma de suas filhas é colocada em seu lugar.
Você pode imaginar como fica o corpo de uma cadela que tem 120 filhotes ao longo da vida? E o tempo entre o término de uma gestação e início de outra? Os filhotes são desmamados na 6ª semana (duas semanas antes do ideal) para que a cadela engravide de novo em sequência.

 
Cadelas matrizes da raça maltês. Não há organismo que aguente
gerar mais de 100 filhotes ao longo da vida.

Quando finalmente se exaurem, seu destino mais provável pode ser o aterro pois, uma vez que não consegue mais "produzir" (e dar dinheiro para seu dono) simplesmente não é mais necessária. Talvez, nesta situação, a morte possa ser de fato a melhor saída. Viver nas condições de uma fábrica de filhote é insuportável. Outros criadores, para demonstrar "humanidade" põem as fêmeas exaustas para adoção. Tomar no cu!

 
Antes de ir para aquela pet-shop limpa e colorida que você conhece, é aqui que os filhotes ficam esperando, às vezes por vários dias.

Se sensibilizou? Quer um animal? ADOTE! Adotar um cão ao invés de comprá-lo é a melhor maneira de dar um golpe nesses fabricantes de filhotes. Às vezes você nem precisa ir ao canil municipal ou CCZ de sua cidade, basta andar pelas ruas, onde dezenas de cães perambulam abandonados. Você não estará apenas salvando uma vida, você também não estará colocando dinheiro no bolso dos criadores.
Se tiver um amigo ou familiar que esteja pensando em comprar um filhote, faça-os saber que existem cães perfeitamente saudáveis à espera em abrigos e/ou pelas ruas. Tenha em mente que, comprando um cão, você não o estará “resgatando” da gaiolinha da loja. Suas intenções podem ser boas, mas seu dinheiro vai incentivar o criador a produzir mais e mais filhotes para a venda.

Sabendo de tudo isso que acabou de ler você (se for o caso) não pode, de forma alguma, dizer que gosta de cães. Pode afirmar que gosta do SEU CÃO, sim – e eu até acredito nisso  mas de nenhum outro mais. Nem da própria mãe do seu filhote.



Fonte:  http://outrasverdadesinconvenientes.blogspot.com.br/2011/07/caes-de-raca-eugenia-atual.html